O Senhorio de Jesus


A Igreja primitiva professava sua fé em um Só Deus, e um Só Senhor, Jesus Cristo. Este título de "Senhor" atribuído a Jesus só pode ser entendido no contexto do Messianismo. O povo judeu após sucessivas dominações, exílios, espoliações por parte de outros povos nutriam a esperança do advento de um líder capaz de estabelecer uma nação sólida e próspera, edificada sobre a justiça.
Os profetas delinearam o perfil e previram alguns fatos que deveriam ocorrer com o Messias. Jesus no seu ministério recusava o título de Messias aos moldes militarista e nacionalista requerido historicamente. O fato é que Jesus preencheu boa parte dessas predições, ao passo que recusou outras. Com a morte e ressurreição de Jesus, seus discípulos passaram a confessá-lo como Senhor.
Convém dizer que o título de "Senhor", nessa época, era atribuído aos imperadores. Para os primeiros cristãos confessar Cristo como Senhor significava obedecer seus mandamentos e não a lei dos impérios "pagãos". Os primeiros cristãos só julgavam poder dar o título de "Senhor" a Jesus Cristo e a nenhum outro, uma vez que isso significaria idolatria. Daí podemos entender o massacre do Império Romano sobre os cristãos que não queriam reconhecer o imperador como "Senhor Divino". Para os cristãos o senhorio de Jesus era tanto transcendente como imanente. Seu reino era futuro, mas precisava refletir-se nas suas vidas no presente.
Um título particularmente enigmático que Jesus atribui a si mesmo é o de Filho do Homem. O Filho do Homem previsto nas profecias antigas era o governante humano justo que sentado a direita de Deus exerceria o reinado divino sobre os homens.
Ao passo que requereu o título de Filho do Homem, o que equivaleria ao Messias, Jesus trata de delinear alguns aspectos do Reinado de Deus. Este não seria um reinado aos moldes dos reinos de então, baseados no poder e na opressão. Ele deve acontecer no coração do homem que aceita a vontade de Deus. Ele não é impositivo, mas propositivo, requer uma adesão livre. Ele não está baseado em um território, nem em etnias, não se estabelece por meio de ações militares. Ele é fundado na lei de Deus que é o amor, e se estabelece por livre adesão de cada ser humano. Ele não é um reino de dominação, mas é serviço. Jesus não é um rei aos moldes dos reis do mundo: seu trono é a cruz, sua coroa não é de ouro, mas de espinhos, a sua glória é sua comunhão com o Pai, e não o esplendor das riquezas e pompas.
Professar Jesus como Senhor é reconhecer sua "processão" como a de enviado divino para estabelecer um estado de paz entre os homens, e o lugar desse reino é a consciência humana que adere as leis divinas da justiça e da solidariedade.

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