Sexualidade e a Castidade Consagrada

Livres para o empenho total

Muitas pessoas questionam como os consagrados conseguem viver o celibato, isto é, a castidade consagrada. Um agravante que complica o entendimento da castidade consagrada é a mentalidade mundana, ou seja, uma filosofia que afirma exclusivamente as realidades empíricas e sensíveis e focadas no prazer individualista e que não se abre a realidades autroístas e transcendentes.
Então é preciso ter em mente uma visão do que seja a sexualidade humana. A sexualidade é um dom da vida humana, que encerra não só o aspecto genital, mas toda a vida da pessoa humana. Apresenta uma dimensão física, mas também uma dimensão psicológica, afetiva e mesmo espiritual.
Hoje vivemos um período de supervalorização do prazer sexual. Alguns psicólogos afirmam como uma necessidade básica do ser humano. É preciso dizer; Sexo não é tudo! Isto é um mito da mentalidade hedonista. A pessoa humana pode canalizar esta energia para outros ideais.
A sexualidade consiste na própria energia vital do ser humano. Pensemos num rio caudaloso. Este rio pode ser benéfico se for bem utilizado, canalizado. Porém pode ser fonte de enchentes e transtornos. Assim também a sexualidade deve ser bem canalizada.
Pensa-se que uma vivência sexual sadia não se resuma uma satisfação de instintos. Dentro de uma vivência sadia da sexualidade, normalmente ela acarretará afeto, responsabilidades, família, fidelidade, e mesmo castidade. Por outro lado ver a sexualidade apenas como mera satisfação de instintos como diversão, pode causar uma absolutização do "ter relações sexuais". Não se deve dar largas aos nossos instintos sexuais. Pensemos em quantas pessoas adoecidas na dimensão sexual. É preciso acolher este dom, e saber educá-lo para que conduza nossa vida a um equilíbrio. E dentro dessa educação passa-se pela privação. Se se quer ceder a qualquer instinto, fere-se até as regras de convivência social. A castidade é portanto uma virtude moral.
Mas agora adentremos no campo da castidade consagrada. A Castidade consagrada faz parte de algo maior que é a vocação para a vida consagrada. Não se trata simplesmente de abrir mão de ter relações sexuais, mas utilizar-se da própria existência enquanto ser sexuado num projeto de doação pelo reino de Deus. Ora, o privar-se das relações sexuais libera o consagrado das consequências que delas provém, liberando o mesmo para uma disponibilidade total para o serviço da humanidade e de Deus. Isso significa que tendo aberto mão de ter relações sexuais e suas consequências integrais, o consagrado disponibilizará seu tempo, trabalho e preocupações para as coisas de Deus. [1Cor 7]
No entanto, não estou dizendo que a castidade consagrada seja uma tarefa fácil. Não podemos negligenciar o fato que temos essa energia sexual (uns mais que outros). E uma vivência errada, uma repressão dessas energias podem levar a uma adoecimento psíquico. Para uma vivência madura da sexualidade dentro do estado de vida consagrada, o consagrado deverá trilhar um caminho de autoconhecimento e disciplina de suas faculdades afetivas e sexuais, e isso passa pela oração, disciplina, reflexão sobre o objetivo de sua vocação, acompanhamento psicológico, direção espiritual e outros.
Freud reconheceu a possibilidade da sublimação das energias sexuais, isto é, a possibilidade de canalizar as energias sexuais para um ideal maior, uma profissão, um projeto.
Para o consagrado isto significa que este deve canalizar sua energia sexual para o seu relacionamento com Deus, o cuidado para com o povo de Deus, a doação nos trabalhos, a vivência de uma afetividade sadia, o cultivo da amizade.
A amizade é algo muito importante para o cultivo da castidade consagrada. É preciso crer que é possível aproximar-se de alguém sem segundas intenções, sem desejar o corpo da outra pessoa, mas sua companhia, sua conversa, para partilhar tristezas e alegrias. Se alguém acredita na possibilidade da amizade, certamente acreditará na possibilidade da castidade.

Comentários

Postagens mais visitadas