O que significa Jesus ser a porta das ovelhas

O Evangelho de João, tardio, é marcado pela alta cristologia (uma compreensão de Cristo como sendo de natureza divina), pela ruptura com a comunidade judaica e a substituição dos elementos da religião judaica pelo papel de Cristo.

No discurso do Bom Pastor (Jo 10) há uma escalada na compreensão acerca do pastoreio de Cristo. Num primeiro estágio, Jesus por meio de sua palavra conduz ao Pai, mas depois ele mesmo é o Bom Pastor que dá vida às ovelhas.

Neste ínterim, ele afirma também ser a porta das ovelhas.

O entendimento deste termo não está no uso comum que seria a passagem pela qual as ovelhas atravessam a porta para entrar no aprisco.

Vamos fazer um estudo versículo a versículo:

“Na verdade, na verdade vos digo que aquele que não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador. Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor das ovelha”. (João 10:1,2)

Só Jesus tem livre acesso ao Pai. Por isso só ele é o verdadeiro pastor.

“A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora”. (João 10:3)

O porteiro seria o Pai. Não é um movimento de entrada, mas de saída. Remete ao Êxodo, e a libertação inclusive da religião que pode se tornar um elemento de aprisionamento. Jesus não é a porta que prende, mas a porta que liberta.

“Em verdade, em verdade vos digo que eu sou a porta das ovelhas. Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram. Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens”. João 10:7-9

Jesus afirma ser a porta das ovelhas. A porta das ovelhas era uma passagem que havia em Jerusalém por onde eram conduzidas as ovelhas para o sacrifício. Jesus afirma ser a porta das ovelhas, pois se torna o meio pelo qual os que nele creem se libertem dos sacrifícios de animais requeridos pelo templo de Jerusalém.

Esta porta serve para entrar e sair. Entrar na dimensão divina e sair da religião escravizadora. O regime do pastoreio de Cristo é o regime da liberdade.

Em suma podemos falar aqui de uma ruptura com a religião judaica, em que Cristo é visto como um Moisés, que assim como ele conduziu o povo para fora do Egito, traz suas ovelhas para fora do regime sacrificial do templo. Mais uma pancada no processo de ruptura entre a comunidade cristã e a comunidade judaica.




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