Qual o significado de Jesus ter trazido mortos de volta a vida?


Os Evangelhos trazem o relato de três pessoas a quem Jesus trouxe de volta a vida: a filha de Jairo (Mc 5,21-24.43; Lc 8,41-56; Mt 9,18-26) , o filho da viúva de Naim (Lc 7,11-17) e Lázaro (Jo 11,1-46).
Além dos Evangelhos, relatos de ressurreição, só têm um precedente nas Escrituras: a ressurreição do filho da viúva de Sarepta, através do profeta Elias (1Rs 17,17-24).
Irei refletir sobre os relatos sobre a ressurreição da filha de Jairo. (perícopes no final) (2).
O primeiro ponto a ser destacado é a pessoa de Jairo. Jairo era chefe da sinagoga, e portanto, um conhecedor das Escrituras. Os relatos mostram que Jairo se prostrou diante de Jesus, um ato de profunda reverência e confiança, somente devido a Deus. (1)
Jairo tinha a expectativa de que Jesus poderia curar sua filha que estava em estado muito grave. Mas quando estão ainda a caminho, chega a notícia de que a menina já havia morrido. E da parte desses mensageiros, como é óbvil, não havia mais solução viável, pois a morte é um caminho sem volta. Mas Jesus não via assim. Encorajou o pai, para que continuasse crendo. A atitude de Jesus tornou-se motivo de risos, e certamente os que ali estavam previam seu fracasso. Mas Jesus toma a mão da menina e lhe chama, e ela, causando admiração a todos, se levanta.
A narrativa expressa que ao toque (Mateus) e ao chamado da voz de Jesus, a menina que estava morta voltou a vida. Lucas com sua linguagem explicativa narra “e o seu espírito voltou, e ela logo se levantou”.
O que chama atenção é que os evangelistas não relatam Jesus fazendo uma oração ao Pai, como o fez Elias (1Rs 17,20-21), e o próprio Jesus, quando ressuscitou Lázaro (Jo 11, 41-42), mas que Jesus apenas tocou-a e chamou-a. Assim também acontece na ressurreição do filho da viúva de Naim, conforme narra Lucas “Jesus disse: jovem, a ti, eu te digo: Levanta-te. E o que fora defunto assentou-se, e começou a falar.” (Lc 7,14). Nesta passagem se enfatiza que Jesus fala em seu próprio nome.
Assim, podemos interpretar que os relatos de ressurreição indicam a autoridade de Jesus sobre a morte.
A ressurreição de Jesus, para Paulo, é a premissa da nossa ressurreição (cf. 1Cor 15), mas particularmente a ressurreição de pessoas comuns também é bastante significativa.
Mas também podemos nos questionar: Qual era a intenção de Jesus? E porque Jesus não ressuscitou todos os mortos da Palestina de seu tempo?
Jesus não quer fazer espetáculo, nem ser a solução fácil para as angústias humanas, não é um mago. Ele expressamente pede para que não divulguem o fato. Isso porque seu objetivo é apenas dar amostras sobre a significado de sua obra salvífica. Os milagres e curas de Jesus são sinais para que se creia nas verdades fundamentais acerca de sua missão! A saber:
Jesus tem uma particular comunhão com Deus.
Jesus tem domínio sobre a morte.
A morte não é o fim.
Há uma existência pessoal após a morte, ou de outro modo não se poderia ressuscitar pessoas.
O evangelista João que faz uma leitura teológica da prática de Jesus assim conclui:
O Pai ama o Filho, e todas as coisas entregou em suas mãos. (Jo 3,35)
(O pai outorgou ao Filho) autoridade sobre toda a carne, para que conceda a vida eterna a todos os que lhe deste. (Jo 17,2)
Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos e os faz viver, assim também o Filho dá a vida a quem Ele desejar. (Jo 5, 21)
E esta é a vontade do Pai, o qual me enviou: que Eu não perca nenhum de todos os que Ele me deu, mas que Eu os ressuscite no último dia. (Jo 6,29)


(1)
A prostração, na Bíblia, é um ato de profundo respeito, e inclusive de adoração. Um homem temente a Deus não se prostra diante de uma criatura. Na Bíblia alguém temente a Deus se prostra somente em oração, ou então diante de um ser expressamente vinculado a Deus (anjos, profetas). Mas também pode significar um ato de auto-humilhação, de dependência, um forte clamor feito a alguém que lhe pode favorecer.
O vínculo entre a prostração e a adoração é estreito de tal modo que há passagens em que alguns personagens repreendem tal atitude.
E eu, João, sou aquele que vi e ouvi estas coisas. E, havendo-as ouvido e visto, prostrei-me aos pés do anjo que mas mostrava para o adorar. (Ap 22:8) E disse-me: Olha, não faças tal; porque eu sou servo teu e de teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus. (Apo 22:9)
Assim também fez Pedro a Cornélio:
E aconteceu que, entrando Pedro, saiu Cornélio a recebê-lo, e, prostrando-se a seus pés o adorou. Mas Pedro o levantou, dizendo: Levanta-te, que eu também sou homem. (At 10:25-26).
Logo, o fato de Jairo se ajoelhar diante de Jesus indica, no mínimo, um profundo respeito e confiança, um reconhecimento de que ele era um homem de Deus que poderia lhe favorecer. E diferentemente de outros personagens, Jesus não repreende o homem por sua atitude.

(2)
Análise das perícopes:
Mc 5,21-24.43

E, passando Jesus outra vez num barco para o outro lado,
ajuntou-se a ele uma grande multidão;
e ele estava junto do mar.
E eis que chegou um dos principais da sinagoga, por nome Jairo, e, vendo-o, prostrou-se aos seus pés,
E rogava-lhe muito, dizendo:
Minha filha está à morte; rogo-te que venhas e lhe imponhas as mãos, para que sare, e viva.

E foi com ele, e seguia-o uma grande multidão, que o apertava.
(...)
Estando ele ainda falando, chegaram alguns do principal da sinagoga, a quem disseram: A tua filha está morta; para que enfadas mais o Mestre?
E Jesus, tendo ouvido estas palavras, disse ao principal da sinagoga: Não temas, crê somente.

E não permitiu que alguém o seguisse, a não ser Pedro, Tiago, e João, irmão de Tiago.
E, tendo chegado à casa do principal da sinagoga, viu o alvoroço, e os que choravam muito e pranteavam.
E, entrando, disse-lhes: Por que vos alvoroçais e chorais? A menina não está morta, mas dorme.
E riam-se dele;

porém ele, tendo-os feito sair, tomou consigo o pai e a mãe da menina, e os que com ele estavam, e entrou onde a menina estava deitada.
E, tomando a mão da menina, disse-lhe: Talita cumi; que, traduzido, é: Menina, a ti te digo, levanta-te.
E logo a menina se levantou, e andava, pois já tinha doze anos; e assombraram-se com grande espanto.
E mandou-lhes expressamente que ninguém o soubesse; e disse que lhe dessem de comer.

Lc 8,41-56

E aconteceu que, quando voltou Jesus,
a multidão o recebeu, porque todos o estavam esperando.

E eis que chegou um homem de nome Jairo, que era príncipe da sinagoga; e, prostrando-se aos pés de Jesus, rogava-lhe
que entrasse em sua casa;
Porque tinha uma filha única, quase de doze anos, que estava à morte.

E indo ele, apertava-o a multidão

(...)
Estando ele ainda falando, chegou um dos do príncipe da sinagoga, dizendo: A tua filha já está morta, não incomodes o Mestre.

Jesus, porém, ouvindo-o, respondeu-lhe, dizendo: Não temas; crê somente,
e será salva.
E, entrando em casa, a ninguém deixou entrar, senão a Pedro, e a Tiago, e a João, e ao pai e a mãe da menina.
E todos choravam, e a pranteavam;

e ele disse: Não choreis; não está morta, mas dorme.

E riam-se dele, sabendo que estava morta.
Mas ele, pondo-os todos fora,




e pegando-lhe na mão, clamou, dizendo: Levanta-te, menina.
E o seu espírito voltou,
e ela logo se levantou; e Jesus mandou que lhe dessem de comer.
E seus pais ficaram maravilhados;

e ele lhes mandou que a ninguém dissessem o que havia sucedido.

Mt 9,18-26

Dizendo-lhes ele estas coisas,




eis que chegou um chefe, e se ajoelhou diante dele, dizendo:



Minha filha faleceu agora mesmo; mas vem, impõe-lhe a tua mão, e ela viverá.
E Jesus, levantando-se, seguiu-o, ele e os seus discípulos.
(...)









E Jesus, chegando à casa daquele chefe, e vendo os instrumentistas, e o povo em alvoroço,



Disse-lhes: Retirai-vos, que a menina não está morta, mas dorme. E riam-se dele.


E, logo que o povo foi posto fora, entrou Jesus,



e pegou-lhe na mão, e a menina levantou-se.





E espalhou-se aquela notícia por todo aquele país.

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