A salvação cristã e as novas antropologias


Na antropologia clássica, o humano é entendido geralmente como um ser dualista: corpo e mente (alma), muitas vezes vistas como realidades opostas, em que a dimensão corpórea é desvalorizada. A salvação é vista como salvação da alma, a dimensão intelectiva e espiritual da pessoa.
A antropologia atual, por sua vez, vê o ser humano não mais como um ser dual, mas como “ser vivo participante da cultura”. Não há mais o dualismo: corpo/mente. Não se pensa em uma existência incorpórea, pois desde Tomás de Aquino integrou-se a realidade corpórea como inerente à vida humana. Nas novas antropologias o intelecto humano não é concebido como sendo obra do indivíduo, mas é algo forjado no berço da convivência social.
Somos seres sociais. Nascemos precisando de pessoas: cuidadores que nos alimentam e zelam quando não temos capacidade de prover nossa sobrevivência. A cultura e a linguagem que fazemos uso não foi inventada por nós, mas recebida por tradição por meio da convivência social. Mesmo depois de adultos e produtivos, nossa vida ainda depende de uma série de agentes para as mais simples de nossas atividades, não produzimos, nem transportamos nossa comida, por exemplo. O ser humano se torna especializado, e por isso também dependente. Somos bons (ou mesmo muito bons) em algo, mas sempre dependemos das habilidades e do trabalho de outros. Nossa vida se torna uma teia de interações sociais.
A obra salvífica de Jesus é passível de ser redimensionada ante essa nova visão antropológica.
Vejamos: Duas (2) categorias permanecem patentes nas novas antropologias. 1) O homem como ser vivo, 2) o homem como ser cultural.
A obra salvífica de Jesus descrita no Evangelho atinge em cheio essas duas compreensões.
Jesus salva a cultura, pregando uma forma de vida baseada na solidariedade. O pecado é então visto como o egoísmo, a recusa da nossa dependência mútua. O ethos pregado por Jesus envolve a compaixão e a generosidade que fazem jus a “essência” social que nos constitui. Jesus dá a vida ao indivíduo humano. Seus atos salvíficos demonstram seu poder sobre a vida: cura, ressuscita, reabilita. A Salvação de Jesus é manifesta como vida plena para todos, e se inicia a partir de uma nova forma de convivência social.

Comentários

Postagens mais visitadas