Existe o mal absoluto?



Se acreditarmos que existe o mal absoluto, então acreditamos em uma força que rivaliza de igual para igual com Deus. Essa crença existiu na Antiguidade. Santo Agostinho, antes de se converter ao Catolicismo, pertenceu à seita herética dos Maniqueus. Esta seita defendia um dualismo absoluto, dizendo que havia dois princípios na origem de todas as coisas: o Bem e o Mal absolutos.
A Divindade boa fizera tudo o que há de bom, enquanto eles atribuíam todos os males que aparecem no mundo a um Principio do Mal, Absoluto, igual e contrário a Deus.
Santo Agostinho, no livro Contra Manicheos, argumenta acerca dessa questão.
Diz Santo Agostinho que o fato de algo existir evidentemente é um bem.
Ora, se o Mal absoluto existisse, ele não teria o bem da existência.
Logo, ele não seria o Mal absoluto. Portanto, o Mal absoluto não existe e não pode existir.
Argumenta ainda Santo Agostinho que mal é o que vai contra a natureza. Portanto o mal não pode ser natureza. O mal enquanto ser não existe.
Dai, se conclui que o mal não existe como coisa. Deus fez tudo o que existe, e a cada coisa que Deus fazia, está escrito no Gênesis, que Deus dizia que cada coisa feita era boa, e que o conjunto do universo é muito bom (Gen. 1, 31).
Portanto, o mal não existe enquanto ser, enquanto coisa. Não há coisas más.
Mal é a falta do que deveria existir, ou a falta de ordem. Por exemplo, se a uma pessoa lhe falta um olho, isso é um mal a falta do olho. Se uma pessoa tem uma orelha na testa, isso é mal porque é uma falta de ordem.
O que existe é o mal moral, isto é o mal enquanto ação. Há ações (verbos) más. Mas não há substantivos maus. Roubar, assassinar, mentir, caluniar, etc são males morais, são ações más.
O que há é um desordenamento de bens, a valorização de um bem menor em relação a um bem maior. Por exemplo, o ladrão rouba dinheiro, porque o dinheiro é um bem. Mas, a justiça é um bem maior do que o dinheiro. Ao roubar (verbo que indica ação) o ladrão coloca o bem do dinheiro acima do bem da justiça. Ele desordena os bens, pois a justiça deveria ser posta acima do dinheiro.
Você poderia perguntar sobre o demônio, se o demônio não seria absolutamente mau.
Moralmente, o demônio é absolutamente mau, mas não como ser.
O ser do diabo foi feito por Deus que deu a Lúcifer uma inteligência potentíssima e uma vontade imensa, mas que Lúcifer usou para fazer ações más, para desordenar os bens. Portanto, o diabo enquanto ser criado por Deus -- só enquanto criatura feita por Deus, é uma criatura boa, com uma inteligência e uma vontade muito poderosas, que ele usa moralmente mal. Por isso o diabo é moralmente mau. Mas o diabo não pode ser tido como Mal absoluto, pois ele existe, e existir é um bem.
Orlando Fedeli (com adaptações)

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