A vida como mistério divino e o compromisso cristão com a vida plena


Talvez um dos fatores que levou nossos ancestrais a buscar práticas religiosas foi a experiência da morte, uma realidade tanto factual quanto inesperada que teimamos em não nos acostumar. Também aquilo que causa incômodo para o andar normal da experiência da vida como a dor e a doença, motivam o ser humano a busca de cura, e nos primórdios da civilização a cura estava sempre ligada ao sagrado. O sonho da eternidade e a utopia de um mundo sem morte e sem males está presente em muitas formas de religião, e na nossa religião cristã esta condição ideal está expressa na ideia de reino dos céus.
Jesus Cristo declarou que veio ao mundo para que todos tenham vida plena. Seu ministério consistiu em reestabelecer a saúde física, psíquica e espiritual a quantos encontrou. Na Eucaristia se faz pão, o alimento básico para a manutenção da vida no contexto de sua cultura. Ele deu a vida para que suas ovelhas tenham vida. Na Ressurreição mostrou que a morte não é o termo da vida humana.
O céu é participação dos homens na vida de Deus. Nesta condição Deus será tudo em todos. Como os ramos da videira recebem vida da videira, inseridos em Deus viveremos sua vida. O grande dom que Deus propõe a humanidade é a possibilidade de eternizar a sua existência. Nada mais coerente é que nós que queremos receber tamanho prêmio, possamos aderir ao propósito divino de zelar pela dignidade da vida humana. Para isso é preciso reconhecer Deus como grande doador da vida e nós como zeladores deste dom inestimável.
Cada um deve se propor a ser “bom samaritano” do seu próximo. Quem é o meu próximo? “Próximo é aquele se faz próximo”. É aquele que não teme em aproximar-se da precarização da vida no intuito de restaurá-la. Esta foi a missão de Jesus, esta é a missão da igreja. Morrer para que o outro tenha vida.
O propósito de Deus ao originar o universo e os humanos não foi o narcisismo de ser adorado, mas a generosidade de compartilhar sua vida conosco. Para ingressar neste estado de comunhão com Deus, é conveniente que já nesta vida vivamos a grande confraternização que haverá no céu. No céu não há egoísmo, então ele não serve para os que teimam em ficar presos na trama do amor próprio, do fechamento em si mesmo.
Que o Espírito Santo nos ajude a compreender o mistério de Deus como compartilhamento de vida e que nos façamos aptos de participar deste mistério assumindo o compromisso de cuidar da vida humana e combater tudo o que denigre a dignidade da vida humana, nos solidarizando com todo humano e toda sociedade que sofre no corpo, na mente ou no espírito.

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