QUEM É O ESPÍRITO SANTO NA BÍBLIA?


O termo “Espírito Santo” na Bíblia significa “sopro” ou “respiração divina”. Indica o princípio vivificante que emana de Deus e que ele comunica ao mundo, às criaturas viventes, ao ser humano. Denota também uma essência sobrenatural, ou seja imaterial, não limitada, mas ao mesmo tempo viva e atuante sobre o mundo dos homens.
A Bíblia apresenta vários sinais e imagens do Espírito Santo [sopro (Ez 37,9, Gn 2,7), fogo (At 2,3), vento (Jo 3,8; Ez 37,9, At 2,2), água viva (Jo 7,37-39; Jo 4,10; Ap 22,1; Ez 36,25), pomba (Mc 1, 10, Mt 3, 16; Lc 3, 21-22), sombra (Lc 1,35), unção (At 10,30; 2Cor 1,21, Is 61,1). Mas é importante saber que o Espírito Santo não pode ser reduzido a nenhuma destas figuras, ou corremos o risco de coisificá-lo; elas apenas ajudam a compreender a sua forma de atuar. Em verdade, o Espírito Santo não é nenhum tipo de essência material, mas perpassa todas as coisas, e atinge até as profundezas de Deus (1Cor 2,10).
Agora vejamos como o Espírito Santo é apresentado ao longo da Bíblia... Segundo o livro do Gênesis, o Espírito Santo pairava sobre as águas no início da criação (Gn 1,2), e também foi soprado por Deus nas narinas do homem para que este viesse à vida (Gn 2,7). Na história do povo de Israel a ação do Espírito Santo em alguns homens e mulheres escolhidos por Deus para uma missão era evidenciada por meio de manifestações extraordinárias de dons de liderança, força, sabedoria, fé e milagres, como, por exemplo, em Moisés (Nm 11,16-17), Gedeão (Jz 6,33-34), Sansão (Jz 13,24-25), Saul (1Sm 10,6), Davi (1Sm 16,13) e outros.
Também a profecia é provocada pelo Espírito Santo (2Pd 1,21). Profeta, na Bíblia, é todo aquele que fala e realiza sinais com o objetivo de transmitir uma mensagem divina. A ação profética é realizada pela força e inspiração do Espírito Santo que faz a mediação entre Deus e o profeta (Ne 9,13; Ez 11,5). Os profetas bíblicos fizeram declarações importantes sobre a manifestação do Espírito Santo que deveria vir a acontecer. Eles predisseram a influência do Espírito Santo sobre o Messias, sobre o qual ele repousaria e concederia seus dons de sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus (Is 11,2). Eles também anunciaram que futuramente iria acontecer uma grande efusão (derramamento) do Espírito sobre a humanidade inteira (Jl 2,28-29; Is 44,3).
O efeito dessa nova manifestação do Espírito Santo seria que o dom de profetizar, ou seja o dom de ouvir e anunciar a mensagem divina, não iria mais ser privilégio de alguns, mas viria a ser acessível a todos. A ação do Espírito iria ainda purificar as perversidades dos homens e fazer com que estes observassem os mandamentos de Deus (Ez 36,26-27; Zc 13,1). Nesse novo tempo a lei de Deus não seria mais algo externo a ser imposto às pessoas, mas o próprio Espírito Santo os convenceria a respeito da Lei a partir de dentro, do seu coração (Jr 31,34; Hb 8,11).
É no Novo Testamento que se consolidará a revelação do Espírito Santo. Sua presença se dá desde a concepção de Jesus no ventre virginal de Maria, que aconteceu por meio de seu poder (Lc1,35). Antes de iniciar seu ministério público, na ocasião de seu Batismo, o Espírito Santo pousou sobre Jesus como se fosse uma pomba (Mc 1, 10, Mt 3, 16; Lc 3, 21-22). A virtude de Jesus para realizar suas obras, curas, libertações, ensinos, provinha do Espírito Santo (Lc 4,16-21, Mt 12,28). João Batista afirma que ao contrário dele, Jesus não batizará apenas com água, mas com o Espírito Santo (Mt 3,11-12). E Jesus afirmou que, de fato, possuía a água viva (em contraste com a agua material) e que a poderia dar a quem lhe pedisse (Jo 4,10; Jo 7,37-39).
No seu discurso de despedida, descrito no evangelho de João, Jesus oferece importantes esclarecimentos sobre a natureza e o agir do Espírito Santo. O Espírito emana do Pai, e este concedeu o Espírito ao Filho, e Jesus, por sua vez, assegura que enviará o Espírito sobre o mundo (Jo 14,16; Jo 16,15), e é por isso que ele precisa voltar para o Pai (Jo 16,7). Ele afirma que os seus discípulos não ficarão sozinhos, mas virá outro advogado (Paráclito) (Jo 15,26), que lhes lembrará tudo aquilo que havia lhes ensinado (Jo 14,26) e revelará aquilo que eles ainda não podiam entender (Jo 12,13). Este irá dar coragem e sabedoria aos seus discípulos para testemunharem o Evangelho aos povos (Mc 13,11; Mt 10,20; Jo 15,26-27; At 1,8). Em uma de suas aparições, depois de sua ressurreição, Jesus soprou sobre os apóstolos, dizendo: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,22) e deu-lhes o poder de perdoar os pecados (Jo 20,23). Ele ordena ainda que o Batismo seja feito em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28,19).
A ação do Espírito foi crucial para o início da evangelização. Os apóstolos ainda temerosos, diante da partida de seu mestre, estavam reunidos em oração, quando escutam um vento forte e têm a visão de línguas de fogo pousando sobre suas cabeças, o que lhes fez entrar em êxtase e falar em línguas estranhas (At 2,1-4). Segundo o livro dos Atos dos Apóstolos, depois disso Pedro fez uma pregação dizendo que ali estava se cumprindo a profecia do envio do Espírito Santo (At 2,16-17). E a partir dali teve início a evangelização.
O livro dos Atos dos Apóstolos pode ser considerado o “evangelho” do Espírito Santo, pois relata como este agiu conduzindo e inspirando os primeiros cristãos, dando-lhes a graça de levar adiante a mensagem de Jesus, mesmo em meio a grandes dificuldades e perseguições. A aceitação da mensagem sobre Jesus pelas pessoas fez surgir os primeiros grupos de cristãos.
Segundo Paulo, o Espírito Santo é a força viva que gera e sustenta a igreja, a comunidade dos fiéis (1Cor 12,13). Ele expõe que o Espírito Santo promove dons, ministérios e carismas (1Cor 12,1-11, Rm 12,6-8), que são aptidões, funções e habilidades naturais e sobrenaturais que tem como objetivo o crescimento da comunidade cristã. É sobretudo pelo dom da caridade, da capacidade de compartilhar a vida uns com os outros, à qual todos os demais dons estão a serviço, que o Espírito opera na igreja cristã (1Cor 12,31;13,1-8; Cl 3,14). No nível pessoal, Paulo ensina que o Espírito Santo se manifesta através de seus frutos (Gl 5,22-23), que são meios de abertura e comunhão com as pessoas, e de domínio dos impulsos egoístas.
Percebe-se assim a importância do Espírito Santo em nossa vida. Vale prevenir que alguns termos ou representações podem levar a pensar que o Espírito Santo seja uma coisa externa a nós, algo como um tipo de fluido ou energia que pode estar mais ou menos presente em nós. Em verdade, ele é uma pessoa divina que habita dentro de cada um (Jo 14,17). Somos templos do Espírito Santo (1Cor 6,19, Ef 2,22). Estar mais ou menos cheios do Espírito Santo não significa que ele esteja mais ou menos presente em nós, mas que nós estamos mais ou menos abertos à sua ação, pois ele respeita nossa liberdade e disponibilidade.
Paulo exorta que devemos cuidar para não esfriar o Espírito que habita em nós (Ef 4,30). Não que nós tenhamos algum poder sobre ele, mas porque ele é sensível e respeita nossa liberdade, podendo deixar de agir quando lhe oferecemos resistência, quando ignoramos suas inspirações e praticamos o que se lhe opõe.
Irmãos e irmãs, oremos, declarando ao Espírito Santo que lhe damos plena liberdade para nos conduzir e pedindo-lhe para que leve-nos a testemunhar a Boa Nova de Deus ao mundo, pelo anúncio da mensagem de Jesus, e pela vivência concreta do amor e da misericórdia, promovendo a vida de cada ser humano, de cada filho e filha de Deus.
Onipotente Espírito Santo, dom do Pai e do Filho, continuai a obra de Pentecostes, inundando com vossa presença os homens e mulheres de toda a terra, dando-nos a graça da fé e do amor, que é doação. Libertai-nos de nossas perversidades, transformai nossa consciência e nossos afetos gravando em nós a vontade de Deus. Sede nosso guia e dai-nos vossos carismas, dons, frutos e serviços, encharcai-nos de vossa presença para que sejamos testemunhas intrépidas de Jesus Cristo, o filho de Deus.

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