O conhecimento de Cristo, a sabedoria filosófica e o existencialismo do tipo kiekergaardiano



Paulo Apóstolo na Primeira Carta aos Coríntios faz uma contraposição entre o conhecimento de Cristo e a sabedoria humana:
“Os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos. Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus.” (1 Coríntios 1:22-24)
Paulo, ao expandir as fronteiras do anúncio do Evangelho a outros povos, observa que a pregação de um filho de Deus morto na cruz além de entrar em conflito com a visão de um messias portentoso pretendido pelos judeus, também entra em confronto com o tipo de conhecimento elaborado pelos gregos. Paulo, do qual supõe-se ter uma formação nesses conteúdos, afirma ter intencionalmente prescindindo de tais conhecimentos em sua pregação: “Quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado.” 1 Coríntios 2:1,2
Desconfia-se que tal conhecimento se relacione tanto com a teologia quanto com a filosofia metafísica grega que já a este tempo (sec. I) tinha tido as contribuições de Platão e Aristóteles (séc IV a.C). Neste tipo de filosofia o Princípio Absoluto (relacionamos isso com Deus) não se mistura com o plano das coisas criadas, com a mundanidade. Por isso para aqueles que se pautam por este tipo de filosofia a ideia de um filho de Deus feito homem e que padeceu a morte é vista como contrassenso, nas palavras de Paulo, “loucura”.
O problema dos gregos está, portanto, no excesso de confiança num tipo de conhecimento elaborado pela razão humana: a filosofia metafísica. As especulações metafísicas são construídas a partir de uma abstração, para não dizer distanciamento da realidade presente, na busca de se conhecer os princípios eternos do ser. A grande armadilha é que a metafísica não revela a realidade, mas sim as estruturas da própria mente humana, os princípios da lógica e a forma como agrupamos os elementos da realidade.
O que põe a prova este tipo de conhecimento é a própria realidade, que constantemente desconcerta as teorias e as expectativas obrigando a humanidade a refazer suas compreensões, pois a história não tem compromisso com a lógica. O Deus da Bíblia, por sua vez, não é um Deus conceitual, mas o Deus que se revelou na história, que se encarnou e conviveu com os homens.
Paulo diz abrir mão dos conhecimentos teóricos em sua pregação, pois está imbuído da convicção de que o poder e da sabedoria de Cristo são suficientes para ele e para aqueles que o escutam, pois este conhecimento, por mais que entre em contradição com os sistemas filosóficos de seu tempo, foi uma realização histórica em relação aos seus contemporâneos, e uma experiência pessoal que refundou a sua própria vida. Esse conhecimento para Paulo é algo suficiente e superior a tudo quanto ele mesmo valorizava: “considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor.” Filipenses 3:8
Søren Kierkegaard, filósofo e teólogo dinamarquês do séc. XIX é o pai do existencialismo filosófico o qual, opondo-se a metafísica hegeliana, defende a prioridade da realidade humana concreta em relação ao pensamento abstrato.
Kiekegaard argumentou que a realidade é fundamentalmente, paradoxal e que o seu maior paradoxo é a união transcendente de Deus e do homem na pessoa de Jesus Cristo. Ante a irracionalidade da realidade e a brevidade da vida terrena, o homem pode dar o salto da fé o qual promete uma recompensa eterna. Então nada adianta estar limitado pelos conceitos das ciências quando este não possam se abrir para fé. A fé, e portanto, Deus, tem suas próprias regras.

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